Sentei-me numa cadeira em frete ao espelho e chorei, chorei. Chorei por ter conseguido realizar o que o meu pai queria para mim, chorei por estar ali o David, chorei pelo que o David disse, chorei por nao saber o que sentia e chorei por nao ter falado a Inês do beijo.
- Ele estava a falar de ti nao estava? - perguntava-me a Inês. A sua cara era de fúria mas ao mesmo tempo de desilusao e tristeza.
- Sim, era.
- Porque nao me disses-te o que se passou naquela praia?
- Porque eu prometi que o que se passou com o Tiago nao se iria voltar a passar. Nao voltaria a por nenhum rapaz a tua frente, porque tu és a minha melhor amiga. E por falar em Tiago, o que é que ele estava a fazer a tua porta naquele sábado da praia?
- Tu viste-o?
- Sim vi, mas nao mudes de assunto. Responde a minha pergunta.
- Ele queria que eu o ajudasse a voltar para ti. Diz que foi uma estúpidez terem acabado.
- Que lhe respondes-te? - perguntei eu muito friamente.
- Eu disse-lhe que se ele quisesse que te reconquistasse sozinho e disse que nao ia ter muita sorte porque tu namoravas com o David Luiz. - dito isto ela baixou a cabeça.
- Inês, tu estas bem?
- Agora sim, mas eu naquele dia estava mesmo magoada contigo Bia e aquilo saiu-me.
- Nao podia ter saido.
- Eu sei, desculpa.
- Mas ele disse-te que ia fazer alguma coisa?
- Virou-me a cara a foi-se embora a rir.
- Eu conheço o Tiago, ele está a tramar alguma.
Levantei-me e fui a janela. Era o que eu temia, o carro do Tiago estacionado á porta do restaurante. Nem queria acreditar, e se ele fazia alguma coisa ao David? Nao podia permitir isso. Sai pela porta das traseiras sem dizer uma única palavra á Inês. Vi-o, estava parado perto do carro a observar o restaurante até que, a dada altura, se desencosta do carro e vai em direcçao ao restaurante. Corro e ponho-me á sua frente, empurrando-o para trás.
- O que é que tu estás aqui a fazer? - Perguntei eu mesmo fúriosa.
- Olá meu amor. - Baixou a cara ( sim, ele tem mais ou menos a altura do David e eu tenho apenas 1.55cm ) para me beijar e eu dei-lhe um valente estalo.
- É que nem penses.
- Ah pois é, tu agora só ligas ao teu amor rico.
- Cala-te parvo, eu e o David nao temos nada e além disse tu nao tens nada haver com isso.
- Eu amo-te bia.
- Tu nao sabes o que é amor. Só sabes usar as pessoas, ( o meu tom de voz começava a subir ) mas tu deves te lembrar muito bem do que me fizes-te. Ou já nao te lembras? Disses-te que gostavas de mim, que me amavas e no fim, só querias uma coisa, sim só querias sexo. E eu, feita cordeirinho lá ia nas tuas cantigas. Quantas vezes abusas-te de mim? Quantas vezes me disses-te que se eu nao fizesse da maneira que tu querias que acabavas comigo? Quantas? hãn? Responde, deixa de ser cobarde. Mas antes que respondas, é bom que fique bem claro. Essa Beatriz morreu e já nao existe, por isso, esses teus jogos para mim chega. Mas sabes uma coisa que me deixas-te e que nem a nova Beatriz consegue mudar? É saber amar. Eu já nao consigo confiar em nenhum rapaz, nao deixo que me toquem ou que me beijem. Já nao me deixo a mim própria me apaixonar. E já que falas-te no David, queres saber é? Nao foi só por causa da Inês que me afastei dele, foi tambem por causa das marcas que deixas-te em mim, por tua causa nao consigo confiar nele. Já nao me chegava teres-me tirado isto como Deus tambem me tirou o meu pai. Realmente, é o que eu mereço, mereço morrer.
Olhei para trás e vi o David parado, ele acabara de ouvir tudo. Nao queria encara-lo, nem a ele nem a ninguem, por isso sai dali a correr. Tinha trazido a minha pequena carteira e lá tinha as chaves da mota que estava mesmo parada do outro lado da rua. Atravessei, liguei a mota e conduzi sem destino, apenas com uma certeza, eu nao devia existir, devia ter morrido no lugar do meu pai, porque ele ajudava pessoas eu, eu nao ajudo ninguem.
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